17 de set. de 2018

Bom dia


Quando caio da cama muito antes do normal, geralmente é por que algo me incomoda e precisa ser escrito. Algo está querendo sair de lá das profundezas da mente.

Há tres dias caio da cama antes das seis horas da manhã com uma manifestação se formando mas que ainda não ganhou linhas identificáveis, um blur, um borrão de ter certeza de que tenho algo a dizer, que está flutuando e que pode se juntar e descer como uma gota de água numa nuvem.

A necessidade de formular e registrar essas pertubações é manifestada pela angústia de estar aqui escrevendo sem rumo. São tantos assuntos, a política, o futebol, a fofoca e os fazeres acadêmicos. Coisas da vida, do universo e tudo mais que podem simplesmente pular de dentro de mim, transbordar e cair gotejando. Contida a torrente, pois se sair muito veloz pode sobrecarregar e estragar tudo que esteja no caminho.

Sei de poucas pistas que podem dar contornos, algumas ainda não relacionadas mas tão presentes que se parecem com peças torneadas que não se faz ideia de onde entram na máquina, são lindas, brilhantes, com formatos atraentes, mas que não acabam em si, são peças, são parte de um todo maior que não identifiquei ainda.

  • Saudade de um gato, não de um específico, mas talvez.
  • Orgulho e egoísmo, sentimentos, pecados e/ou virtudes.
  • Sensação de desordem, como as folhas secas no chão rodando com o vento e sem rumo, enroscando na grade.
  • Uma gota de molho de tomate no teclado que me faz evitar uma letra.
  • Uma vontade de sorrir como Monalisa.
  • Duas vontades, a de correr e a de não me mover.
  • Quinze tarefas, cinco projetos e um guarda-roupa que precisa ser arrumado, também preciso pedir a entrega de água.
  • Incompletude.
  • Alianças a formular e dependências a serem desfeitas/satisfeitas.
  • Tem um cheiro de cravo.

Bem, não parece promissor esse rastreio, faltam muitas especifidades, mas do que é feito o panorama senão dos detalhes? É como ver um fragmento da imagem de cada vez e não poder dizer muito bem se o azul é céu ou água. Fazia tempo que não escrevia.


31 de jul. de 2017

Tratamento parte IV



O que é progressão em um tratamento subjetivo como o da depressão?
São 8 meses de tratamento e aqui estão alguns registros anteriores: parte I o relato das primeiras consultas, parte II, altos e baixos, e a parte III, pedalando no fundo do poço.
Os meses de junho e julho são marcados pela mudança na estação, o frio, a chuva do inverno do sudeste e principalmente seus dias nublados interferem no humor. Precisamente, menos sol significa mais depressão. Tanto por alterações no ciclo do sono, quanto na diminuição de atividades que geram serotonina.

Sobreviver ao inverno, sem recursos financeiros adequados, com toda a fome de carboidratos que aparece junto com o frio, parece um grande desafio né? 

Estou finalizando o mês de julho ainda tentando entender uma crise de raiva do mundo, os motivos de eu não estar escrevendo minha tese e qual caminho tomar.

Junho foi sociável e de grandes superações, fiz um concurso com prova didática e fui muito bem, apesar de não ficar com a vaga, isso me fez perceber que estou no caminho certo, reforçou minha segurança quanto ao destino profissional. Superei problemas, resolvi coisas e me vi humana novamente. Tive sonhos catárticos que me mostraram que devo exigir menos de mim e aceitar minha condição humana, incompleta, falha, contraditória, complicada...

Julho foi o mês de aceitar a regressão. Lembrar que faz parte do tratamento dar umas estacionadas de vez em quando. Uma parte da imobilidade em que me encontro é inércia, outra é falta de vontade e tudo bem. Tentaremos novamente após o sinal... biiiiip.

Vou virar o mês e tentar me encontrar. Em agosto, o sol volta e eu posso me reanimar.

29 de jul. de 2017

Espaços de comportamento

Bad Day por Henn Kim

Quando estou em depressão a vontade de fazer coisas que gosto e realizar pequenas tarefas do cotidiano se esvai e deixa lugar para um enorme buraco a ser preenchido com ideias de inutilidade, culpa e flagelo. Coisas importantes como comer, tomar banho, levantar da cama passam a demandar quase toda a energia que tenho disponível. 
Como eu gostaria que fosse.
Isso, somado ao meu maravilhoso sofá preto, que em épocas de inverno ganhou um maravilhoso edredom preto, que combina perfeitamente com as persianas pretas que transformam a sala em uma completa caverna durante o dia, são um convite.
porco dormindo no sofá com computador ligado
Como se parece na verdade.
(imagem meramente ilustrativa)


Eu quando muito, saio da cama, por vergonha de ficar na cama e me instalo no sofá. Me acompanham o computador, tablet, livro, controle da tv, uma guloseima e almofadas. Banquinhos e aparadores logo começam a ser incorporados a instalação e compor um cenário rodeado de copos, xícaras, restos de comida em pratos e louças. Eu estou pronta para hibernar por dias nesse antro. Sem banho, sem comida, sem energia pra me mover, no máximo virar para um lado e para o outro e lamentar ainda estar viva. 
 Então me pergunto se o problema é o sofá, se eu deveria me proibir de sentar no sofá por este ser o grande gatilho pra chegar no fim do dia me culpando por não ter feito o que devia. Não é o sofá, percebi que consigo os mesmos resultados na cama, na cadeira do escritório, no tapete da sala... Nunca tentei no banheiro, mas posso garantir que não seria difícil, só um pouco mais gelado. 
Já tentei ir à padaria, ao parque, à biblioteca, um café, docerias, espaço coworking. A instalação improdutiva é a mesma. Cheguei a raiz do problema, eu e não os espaços.
Existem espaços que estimulam a criatividade e o trabalho, mas existem posturas que não se importam com os espaços. Sabe aquela pessoa que pode trabalhar em um saguão de aeroporto e render bem aquelas malditas duas horas de espera da conexão? Eu já fui assim. Lia no ônibus, escrevia sentada em qualquer lugar. Não parava um segundo, fazendo duas coisas ao mesmo tempo às vezes completamente incompatíveis com o ambiente.
Agora a vida se resume em ver o tempo passar e dar um saltos estranhos. Tenho mais acesso à internet, é verdade que esse tipo de conexão rouba preciosos minutos do dia e nos atrai para um mundo de variedades, prazeres imediatos e ansiedade pelas respostas. Minha concentração diminuiu, meu poder imersivo aumentou e acho que imergir em si mesmo é um dos fatores que leva à depressão. Eu vivia constantemente preocupada com os outros e isso me relegava ao segundo plano, tinha tantas atividades para os outros que abdicava meu tempo livre, de atividades para mim. Ao realizar o movimento inverso, de encontrar prazer nas atividades que são minhas, como ler, ver tv, pensar na minha vida, comecei a me desconectar e me isolar, criando uma bolha de sobrevivência, que geralmente inclui um edredom.
Quebrar essas práticas tem mais a ver com atitude do que com espaço. 
  • Encontrar um equilíbrio entre o que eu fazia pelos outros e o que eu faço por mim;
  • Identificar a recompensa imediata;
  • Reencontrar os motivos para o esforço em fazer o que não dá prazer, mas é necessário (isso inclui coisas como fazer comida ultimamente);
  • Encontrar o necessário, aquilo que feito vai resultar em ganhos;
Eu estou nessa fase, tentando retomar minha vida. Com dias de mais e outros de menos sucesso. Tentando não me culpar por isso, nem inventar desculpas. Só aceitar que existem momentos melhores e piores que dependem de fatores aos quais eu não tenho controle.